É sentindo que se descobre o mundo Quando eu era pequena sempre me impressionei com as pessoas cegas. Minha mãe dava aulas em uma escola que tinha alguns alunos cegos, ela sempre comentava sobre os treinamentos que os professores tinham para incluir esses alunos. Ouvi muito que os demais sentidos dessas pessoas eram mais apurados como uma resposta da natureza para compensar a ausência da visão.
Muitos anos depois, em um ambiente completamente diferente, em um escritório, com um chefe que trazia sua experiência de outro país, acrescentei mais uma pecinha nesse conhecimento. Ele dizia: “Precisamos identificar o elo mais fraco da corrente, pois toda a cadeia trabalha para compensá-lo.” Parece muito diferente, só que não. Assim é a vida e assim é a forma como nosso cérebro apreende as coisas. Agora, vários outros anos depois, me vejo convivendo em um país no qual eu compreendo “un pettit peux” da 2a língua, que é pouco falada pela maior parte da população, tenho a oportunidade de experienciar algo que essas duas passagens da minha vida já me mostraram. A Tunísia é conhecida como um país Francófono, ou seja, que fala Francês. Historicamente o Francês era sim a segunda língua, ensinado nas escolas e as famílias praticavam, além do árabe. Mas na realidade a coisa não é bem assim. Quase ninguém aprende nem fala francês. Eu imagino que seja o mesmo caso do inglês nas escolas brasileiras. Estar aqui e conviver aqui de maneira local tem sido um exercício sensorial, de aprender e se comunicar com todos os sentidos. É diferente de quando viajamos a turismo. Quando a gente se propõe a viver em um lugar, trabalhar e realmente ter a experiência da vida local a linguagem tem uma importância diferente. Enfim... esses dias tem sido muito interessantes para reconhecer e agradecer a sabedoria dos meus sentidos. Tem sim uma inteligência humana em nossas células que vai além da codificação da linguagem que conhecemos. A princípio pode parecer uma ativação do sistema nervoso simpático, deixando os ouvidos, olfato e visão mais apurados. Com o passar dos dias vou percebendo que é mais o engajamento social mesmo, meu sistema potencializa a sabedoria dos meus sentidos para que eu possa me envolver com as pessoas. Isso é mágico e incrível. Os sorrisos e os olhos brilham quando de alguma forma percebemos que a comunicação aconteceu, a troca aconteceu. E, meu sistema mamífero ficou felizão, para não dizer seguro, por ter se engajado com outros do bando! Meus ouvidos entendem árabe muito mais do que eu poderia imaginar! Isso é uma delicia de reconhecer. Os cachorros que eu caminho todos os dias se acalmam com meu toque e vem em minha direção quando eu abro os braços fazendo o gesto de quem espera um abraço. É muita pretensão nossa achar que só o que nosso cognitivo compreende e decifra nos guia pela vida. Há bilhões de anos, inúmeros idiomas, e muita sabedoria ativa em nossas células para não usarmos isso. Seguimos! Somáticos, Integrados, Compassivos e vivos!
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Ligia Correia
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Dezembro 2019
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